12.1.10

Quero-te em meu sono

Porque te escolho, neste sussurro sem retorno? Porque te quero no meu sono, se iluminaste sobretudo o que não fui? Morreste-me antes que eu morresse e não consigo morrer sem ti. Nunca consegui. Todos os dias da minha vida estive contigo. Como se todas as amizades anteriores fossem só o caminho para chegar a ti. Como se todas as amizades posteriores fossem apenas a ausência de ti.

Inês Pedrosa, no livro Fazes-me falta

Bem, creio que não seja surpresa por aqui que eu não sou assim... uma mulher boa de cama. (não é o que vocês pensaram, ¬¬). Fato, é que meus sonos são um tanto contubardos, um tanto instáveis. Horas durmo como uma pedra, praticamente em coma. Horas... são tantas insônias. Fora os sonhos, tão agitados, tão pertubados que me acordam e me impedem de dormir novamente. Infelizmente, dormir mal já é uma rotina pela qual me acostumei desde a infância.
Mas ontem a noite... hum! Ontem à noite foi exagero. Por pouco não me tomava como louca. Por muito pouco.
Tudo bem que ultimamente tenho dormido muito pouco, apesar de me deitar cedo e tudo mais, ainda fico rolando na cama... repassando o dia que se foi, programando o dia que virá. Pô, tenho que arrumar algo para fazer nestes momentos perturbadores e intermináveis, néh?! Acabo dormindo duas, três horas por noite, apesar da sensação de ter dormido somente dois, três minutos. Enfim, quase um cochilo. Quase um triscar de olhos.
Engraçado como os dias passam tão rápidos e agitados, enquanto as noites são intermináveis. Em suma, realmente ando um pouco letargia por causa disso, raciocínio lento, corpo cansado, às vezes paro até de falar. Sabe quando a gente perde o olhar e fica apenas parado, vazio. Ando assim de vez em quando, creio que seja uma forma que meu corpo arranjou de recuperar a minha mente da exaustão. Mas, apesar de tudo isso, fico meio que em duvida se isso seria suficiente para provocar tal delírio.
Bom, deixe eu me encurtar e contar de uma vez o ocorrido.
Tudo começou... (hehe - senta que lá vem a história!)
Ontem a noite, depois de rolar umas trezentas mil vezes na cama por conta do calor absurdo que esta fazendo nesta cidade infernal, consegui pegar no sono. Sono leve, daqueles que qualquer vento na janela te acorda. Mas bem, não estava ventando, então, dormir mais longamente. Daí que aconteceu.
Acordei com um pulo, com uma sensação de vazio. Procurei ele por todos os lados, rodei a cama, levantei, rodei a casa. Não achava em parte alguma. Ele saiu sem me avisar? Não me acordou e foi embora, me abandonou. Não podia ter feito isso comigo. Cambaleava pela casa me perguntado onde estaria, se voltaria?! Que tipo de pessoa me deixaria sozinha na cama?!
Deitei-me novamente, meus olhos pesados, meu corpo sem o seu abraço. Como pôde?!
Voltei a dormir e de repente, tornei a acordar me achando uma louca. Como poderia procurar alguém que nunca esteve ali. Sim, eu fui para cama sozinha, ninguém estava ali, nem esperava por sua chegada. Uma louca. Estava só, iria permanecer só. Ele não havia me abandonado, ele só não estava ali, nem chegaria. Pelo menos não naquela noite. Um louca. Voltei a dormir.
Pela manhã, quando o despertador tocou, abri os olhos e lembrei do acontecido, ri um riso meio sem graça, meio envergonhado. Mas estava tão cansada, mas tão cansada que fechei os olhos novamente meio que "sem quer-querendo", estava longe de poder prolongar meu sono. Até que senti as mãos dele me acordar e aí que pirei de vez. Já tinha dito que ele não estava, como assim agora ele aparece do nada, para me acordar. Olhei imediatamente para o lado de onde vinha não só as suas mãos como também, o seu cheiro... mas nada vi.
huahauhauahua. Imagina só!
Por isso lembrei deste trecho da poeta portuguesa Inês Pedrosa (que foi um custo achar). Por que é como se sentir falta de alguém que nunca esteve ali. É como sentir saudade de cotidianidades com alguém, como se ele estivesse ali todos os dias, em sua sala, em sua cozinha... mas, simplesmente, nunca esteve. E por isso é tão difícil se permitir morrer, neste breve sono, sem a presença deste alguém. Aquela pessoa que você nem conhece, mas se reconhece.


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Talvez minha alma esteja enamorada enquanto eu durmo.
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Porque realmente, ADORO este filme!
Nada como se reconhecer em um estranho!
Hello stranger

Um comentário:

Excalibur disse...

sono é tão normal, e talvez por isso, tão capaz de enlouquecer... por ser tão "humano".